Capítulo 1

50 tons de clichê + 1

O café da manhã naquele sábado tinha um gosto amargo de despedida. Olhei para ele, sentado à mesa, os cachos castanhos caindo displicentemente sobre a testa enquanto lia o jornal. Era o homem mais lindo que eu já tinha visto, desde o dia em que nossos olhares se cruzaram naquela cafeteria lotada há exatos dois anos. Um clichê, eu sei, o primeiro de muitos que se seguiram até hoje. Vou tentar numerá-los aqui.
1 “Amor à primeira vista”. Na época, eu ri internamente da ideia, mas o sorriso tímido que ele me deu enquanto tropeçava em uma mesa e derrubava meu latte provou que alguns clichês simplesmente acontecem.
– Preciso ir. (ele disse, a voz rouca me trazendo de volta à cruel realidade daquele apartamento que parecia grande demais sem o seu calor)
– Eu sei. (respondi, tentando manter a voz firme, mas sentindo o nó na garganta crescer) – Boa sorte com a mudança.
Ele largou o jornal e seus olhos azuis encontraram os meus, carregados de uma intensidade que sempre me desarmava. Outro clichê: 2 “Olhos que parecem o oceano”. Mas eram mesmo. Profundos e misteriosos.
– Você sabe que não precisa ser assim, certo?
– Nós já conversamos sobre isso, Noah… (suspirei, pegando a xícara de café fria) – São oportunidades incríveis. Você sempre sonhou com essa vaga em Nova York.
– E você sempre foi meu sonho, Clara. (ele disse, a voz agora um sussurro)
Lágrimas picaram meus olhos. Clichê número 3: “Você é meu tudo”. Eu odiava o quão verdade isso soava.
Levantei-me e comecei a juntar as louças, evitando seu olhar. Precisava me manter ocupada, qualquer coisa para não desabar ali mesmo. Sentia seus olhos queimando em minhas costas.
– Podemos tentar, Clara. Podemos fazer dar certo. A distância…
– A distância destrói relacionamentos, Noah ( interrompi, a voz agora embargada) – Sabemos que o fim é inevitável.
Ele se levantou e se aproximou, hesitante. Senti o calor do seu corpo perto do meu, o perfume amadeirado que eu tanto amava invadindo meus sentidos. Clichê número 4: “Seu cheiro é meu vício”. Era. Completamente.
Ele tocou meu braço delicadamente, virando-me para encará-lo. Seus dedos longos e finos acariciaram minha bochecha. Clichê número 5: “Seu toque me arrepia”. E arrepiava. Sempre arrepiava.
– E se nós formos a exceção? (ele perguntou, os olhos suplicantes)
Eu queria acreditar. Meu coração gritava para pular em seus braços e dizer que sim, que tentaríamos, que superaríamos qualquer obstáculo. Mas a razão… aquela voz chata e persistente, me lembrava dos casais que tentaram e falharam, das lágrimas derramadas em chamadas de vídeo, da saudade que corrói a alma.
– Eu não sei, Noah. (foi tudo o que consegui dizer, a voz um fio)
Ele suspirou, a derrota estampada em seu rosto. Um suspiro de partir o coração. Partiu o meu, com certeza.
Ele se inclinou e beijou minha testa, um beijo casto e cheio de promessas não ditas. Aquele último beijo carregado de significado.
– Eu vou sentir sua falta (ele sussurrou, a voz embargada)
E de certo que a danada da saudade será minha eterna companheira. Eu já a sentia.
Ele pegou a mala ao lado da porta. Olhei para ele uma última vez, gravando cada detalhe em minha memória: o jeito como ele ajeitava a alça no ombro, a curva dos seus lábios, a tristeza nos seus olhos.
– Se cuida, Clara.
– Você também, Noah.
E então, ele se foi. O som da porta fechando ecoou pelo apartamento, um ponto final doloroso em nossa história clichê. Fiquei ali parada, sentindo as lágrimas finalmente rolarem pelo meu rosto. As lágrimas escorriam como uma cachoeira. Exagerado? Talvez. Mas era exatamente assim que eu me sentia. Sozinha. Com um buraco enorme no peito e a certeza de que, às vezes, os clichês mais bonitos também podem ter finais tristes.
E quem sabe? Talvez… só talvez, em algum futuro distante, nossos caminhos se cruzassem novamente em alguma outra cafeteria lotada. Seria um clichê ainda maior, não acha? Mas, secretamente, eu torcia por isso.

🌿 Espalhe as folhas ao vento

Se este texto tocou você de alguma forma, ajude a fazê-lo chegar mais longe.
Curte, comente, compartilhe, envie para quem ama livro, ler, escrever, ama a literatura ou palavras que respiram.
Espalhe as folhas ao vento — cada leitura é uma nova cena que se abre.

E siga o @folhassoltas no Instagram para acompanhar nossas próximas publicações, bastidores e conteúdos exclusivos.

In:

4 respostas para “Capítulo 1”

  1. Avatar de Ravine Campos
    Ravine Campos

    Uauuuu! Ja estou ansiosa pelo proximo capitulo!

  2. Avatar de Davi Silva
    Davi Silva

    👏👏👏

  3. Avatar de Joane Souza
    Joane Souza

    O primeiro capítulo já deixou um gostinho de quero mais. Nada melhor do que ler uma história “clichê” de amor.

  4. Avatar de Aysllander
    Aysllander

    Tá muito boom, adoro romance clichê, 😅

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *