Clichê número 6: “O destino nos unirá novamente”. Um clichê que eu esperava desesperadamente que se tornasse realidade.
O silêncio que Noah deixou para trás era ensurdecedor. Cada canto do apartamento parecia gritar a sua ausência. A poltrona onde ele costumava ler, a caneca de café pela metade na pia, até mesmo o seu lado vazio da cama parecia palpável, como se sua forma ainda estivesse ali, impressa nos lençóis.
Os dias se arrastaram, cada um mais cinzento que o anterior. Eu tentava me manter ocupada, saindo com amigos, indo ao cinema, até me inscrevi em um curso de culinária, algo que sempre quis e por acaso eu precisava muito fazer, já que sou péssima de cozinha rsrs. Mas em cada pausa, em cada momento de silêncio, a lembrança de Noah voltava como uma onda, me afogando em nostalgia.
Nossas conversas por vídeo eram esparsas, carregadas de um estranhamento doloroso. Falávamos sobre o trabalho, sobre o clima, sobre coisas banais, evitando o elefante na sala: a saudade avassaladora que sentíamos um pelo outro. Era verdade. A distância criou um abismo entre nós… Um abismo de quilômetros e de silêncios constrangedores.
Um dia, recebi um e-mail dele. Era curto e direto:
“Estou com saudades. Nova York não é a mesma sem você.”
Meu coração deu um salto. Clichê número 7: “Uma fagulha… Um e-mail que reacende a esperança”. Mas logo a razão me atingiu como um balde de água fria. Era só saudade. Não significava que ele voltaria ou que mudaríamos a decisão que tomamos.
As semanas se transformaram em meses. Eu comecei a me acostumar com a rotina sem ele, a encontrar pequenos prazeres no meu dia a dia. O curso de culinária se tornou uma paixão, minhas amigas eram meu porto seguro e, aos poucos, a dor da perda começou a se transformar em uma saudade mais branda e agridoce. Clichê número 8: “O tempo cura todas as feridas”. Não sei se cura completamente, mas certamente ajuda a cicatrizar.
Então, em uma tarde chuvosa de outono, recebi uma ligação inesperada. Era a mãe de Noah.
– Clara, meu bem, como você está?
A voz dela estava embargada, e meu coração gelou. Seria essa uma ligação que pressagia algo importante?
– Estou bem, Dona Helena. Aconteceu alguma coisa?
Houve um silêncio do outro lado da linha, que pareceu durar uma eternidade. Senti aquele frio inesplicável subir pela espinha. Mas nada me preparou para o que ela me disse a seguir:
– O Noah… ele, sofreu um acidente.
O mundo ao meu redor parou de girar. Minha respiração falhou. Um zumbido alto ao meu ouvido e por um momento acho que perdi todos os sentidos. Clichê número 9: “O destino prega peças cruéis”. Cruel era um eufemismo.
Ela me contou os detalhes, a voz trêmula. Um táxi, a pressa, a distração de um motorista. Nada grave, aparentemente, mas ele estava no hospital, precisando de cirurgia. Eles o colocariam em coma induzido para que seu cerebro desinchasse. Eu falei que não era nada sério? pra mim honestamente parecia o fim do mundo. o apocalipse zumbi me pareceu mais agradavel.
– Ele está chamando por você, Clara. (ela disse, a voz agora um sussurro choroso)
Sem pensar duas vezes, peguei meu casaco, minhas chaves e corri para o aeroporto. Comprei a primeira passagem disponível para Nova York. As horas no avião pareceram uma eternidade, minha mente um turbilhão de medo e preocupação. Clichê número 10: “Atravessando o mundo por amor”. Era exatamente o que eu estava fazendo. E faria quantas vezes fossem preciso.
Quando finalmente cheguei ao hospital e o vi deitado naquela cama, pálido e com alguns arranhões no rosto, meu coração se apertou. Mas quando seus olhos azuis encontraram os meus e um sorriso fraco surgiu em seus lábios, eu soube que tinha feito a coisa certa. Clichê número 11: “Um reencontro emocionante em meio à adversidade”.
– Clara… (ele sussurrou, a voz rouca pela dor)
Corri para o seu lado, pegando sua mão na minha.
– Eu estou aqui, Noah… (meus olhos embargam e a voz quase não sai) Eu estou aqui.
Naqueles dias no hospital, enquanto cuidava dele, enquanto compartilhávamos silêncios carregados de significado e trocávamos olhares que diziam mais que mil palavras, percebi o quão tola eu tinha sido em deixar o medo da distância nos afastar. O amor verdadeiro era mais forte que qualquer quilômetro.
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