Capítulo 2 — Um salto entre universos

Teias no Tempo

Uma fanfic de Cristiano José Pinto

Algum lugar no Multiverso, Horas antes

O vento cortava sua pele como lâminas invisíveis, mas não era um vento comum, lembrava uma onda, e comportava-se como uma. O Homem-Aranha atravessava aquela atmosfera estranha entre colossos metálicos que pareciam não ter fim, pendurado por fios que ziguezagueavam num balé desesperado. Ele era levado tanto por suas teias quanto pelas ondas de ar. As construções, altas demais, finas demais, lembravam agulhas enfiadas no céu envenenado daquele mundo, esfumaçado, como se as nuvens estivessem presas ao chão e não quisessem mais se desprender dele. Ver além de dez metros era quase impossível

Cada salto era uma aposta.

Cada teia, uma prece.

O céu era de uma cor que ele não conhecia, algo entre cinza e púrpura, mas talvez o que ele via fosse a própria atmosfera que o envolvia como água suja.

Lá embaixo, o que pareciam carros se moviam com uma velocidade impossível, traçando circuitos luminosos como se a cidade fosse uma placa-mãe viva. Os olhos de Peter mal conseguiam acompanhar a loucura abaixo, isso quando ele a via. Tudo que ele podia confiar em meio àquela confusão atmosférica era em seu sentido-aranha, o qual não parava de disparar.

Ótimo, Stark… A próxima vez que me pedir um favor, eu ignoro.

Devia ter perguntado o nome daquele mundo (ou seria Universo?), assim poderia excluí-lo da lista de possíveis lugares para suas próximas férias. Para piorar, o Homem de Ferro o deixou ali e desapareceu para alguma missão solo. Precisava se apressar, sair logo daquele mundo estranho. De preferência, vivo.

Arfando dentro da máscara, Peter sentia o peso do próprio corpo dobrado pelo ar viscoso e fétido. Cada movimento exigia mais do que ele tinha. Sentia aquele cheiro de vômito de gato que comeu baunilha há tanto tempo que começava a se acostumar.

Foi quando sentiu… tão forte que seus pelos pareciam querer saltar para fora de sua pele.

Um zumbido no ar aproximou-se ameaçadoramente. A onda de distorção o atingiu antes de qualquer coisa. Mesmo que seu sentido aranha não o tivesse alertado, a atmosfera o teria.

Virou-se e lá estava ele. Pelo menos tinha formato humanoide, mas tudo que viu foi uma silhueta laranja e um par de olhos brilhantes. O Aranha Flamejante, como Peter o chamaria depois, se sobrevivesse, voava como um cometa em sua direção, deixando rastros de calor visível mesmo naquele ambiente. Das palmas das mãos, começou a lançar bolas de fogo azul.

— Hora de morrer! — anunciou o sujeito de dentro do traje laranja e preto estampado com linhas que lembravam teia de aranha.

— Assim, do nada? — debochou Homem-Aranha desviando com dificuldade dos projéteis incandescentes. — Sem nem um “bom dia”, um cafezinho, um chá…

Desviou por centímetros da explosão que se formou onde ele estivera momentos antes. Teve tempo apenas de lançar outra teia e se impulsionar para a lateral de uma torre. Não tinha motivos nem tempo para lutar.

Então veio outro ruído, seguido por um arrepio tão profundo que gelou seus ossos. Num reflexo instintivo, saltou para o vazio.

Voando de costas, pôde dar uma boa olhada no segundo perseguidor. A mistura malfeita dele mesmo com dr. Connors transformado. Um híbrido grotesco com garras negras e olhos reptilianos que brilhavam em vermelho, as escamas brilhantes desenhadas como os vãos entre as teias de uma aranha. A língua bifurcada chicoteava o ar como um aviso, antes de teias pegajosas saírem da pontas das garras contra Peter Parker em queda livre.

— Sseu chheiro… ele ffede — sibilou a criatura.

Ótimo”, pensou Homem-Aranha lançando sua teia contra o prédio mais próximo e saindo da direção do ataque visguento do Aranha-Lagarto. “Agora sou um ovo podre e esse cara está louco para me comer.

O escalador de paredes saltou novamente, mas o ar pesado cortava sua velocidade, o mesmo não se aplicava ao seu adversário, acostumado com aquela atmosfera. Suas teias respondiam mais lentamente que as dele. Sentiu o suor brotar de sua testa dentro da máscara.

E então, veio o terceiro. Mal teve tempo de seu sentido aranha disparar.

Ele tinha o corpo tomado por um traje simbiótico vermelho e preto que parecia se mover por vontade própria. E lançava pequenos projéteis de si mesmo, esferas duras que explodiam como granadas quando tocavam uma superfície dura.

Nosso Amigo da Vizinhança logo descobriria que aquele ali não seria tão fácil de despistar. Além de muito rápido, parecia saber para onde sua presa estava indo antes mesmo de o próprio Peter decidir.

Então deixou-se ser atingido.

A explosão de cinco teias-granadas estilhaçou as janelas jogando o Homem-Aranha através de uma delas. O herói, no entanto, sabia para onde fora lançado. A torre com janelas translúcidas em forma de losango. Seu objetivo. Seu alvo.

Os dois vigias que guardavam o terraço não tiveram tempo de fugir do ataque do simbionte, enquanto Peter Parker atravessava um dos painéis de vidro como um míssil humano. O impacto o jogou no chão de um corredor estreito, e ele se ergueu antes que os guardas pudessem reagir, entender o que os tinha atingido. E correu pela passarela até deparar-se a uma sala fechada.

Arrombou-a com o ombro como um touro desgovernado. E lá estava o que viera buscar: o disco. Tão pequeno e metálico que parecia inofensivo. Mas carregava algo que Stark considerara importante o suficiente para transformá-lo em um ladrão qualquer do Brooklyn.

O atirador de teias não hesitou. Pegou o artefato e o enfiou na bolsa da câmera, disparando não só seu sentido aranha, mas um som estridente e luzes roxas e amarelas intermitentes. Assim que se virou, sentiu a vibração.

— Como suspeitava — disse cara de laranja e preto, bolas de fogo nas mãos — nada além de um ladrão.

— Sse o gossto ffor tão horrível quanto o chheiro — acrescentou o lagarto do teto da sala — vvai sser divvertido comer…

Pelo vidro estilhaçado pela explosão das teias-granadas do simbionte, dezenas de formas aracnídeas penetravam a torre em forma de losango e cercavam o invasor. Algumas eram humanoides, outras… nem tanto. Um deles sequer tinha rosto, apenas uma massa de olhos escuros brilhando sobre uma carapaça felpuda.

O Amigo da Vizinhança não esperou. Com o coração batendo no ritmo de uma bomba-relógio, saltou para fora, defenestrando-se através do vidro espesso que se partiu com relutância. Enquanto caía, o Amigo da Vizinhança pressionou o botão preso no cinto, instalado mais cedo por Tony Stark, como se previsse que algo assim aconteceria.

Entretanto, o Homem de Ferro não disse que o portal se formaria tão longe. Duzentos metros à frente, para ser mais exato. Tratava-se de um espiralado em luz azul com brilho capaz de superar a atmosfera esfumaçada daquele mundo. O herói imaginou por um instante que o Universo estivesse abrindo o olho para vê-lo, só não sabia se para ajudá-lo ou presenciar sua morte.

Vamos lá, Peter… só mais uns saltos e…

O sinal-aranha disparou em todas as direções. Seus perseguidores se aproximavam perigosamente. Projéteis das mais diversas composições passavam milímetros dele. Vegetais, animais, líquidos, sólidos, gasosos… e coisas que ele nem conseguia classificar precisando evitar que o atingissem.

Quando faltavam poucos metros, ele apertou o botão em seu cinto novamente. Sua intenção era a de impedir que mais alguém além dele atravessasse, contudo distraiu-se. Uma das teias incandescentes do Aranha-Flamejante o atingiu nas costas. O impacto o girou no ar. E outra bomba incandescente atingiu-lhe no rosto, queimando sua máscara. O impacto o empurrou com violência na direção do portal.


Blooklyn, New York City – NY, fevereiro de 2018, 21:22

— Para onde vamos? — perguntava Mary Jane Watson levando a mala até a cama.

— Achei que gostasse de surpresas — provocou ele se livrando das roupas queimadas do uniforme de Homem-Aranha.

— E como vou saber que tipo de roupa devo levar?

— Digamos que lá faz menos frio que Nova Iorque…

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