Por Tobias Gomes, escritor e design editorial
Na última década, o mercado literário brasileiro passou por profundas transformações, marcadas por crises econômicas, mudanças nos hábitos de consumo, avanços tecnológicos e movimentos de reestruturação das grandes editoras e livrarias. Apesar dos desafios, o setor tem mostrado sinais de recuperação e inovação, especialmente após o impacto severo causado pela pandemia da Covid-19 entre os anos de 2020 e 2021.

Em termos financeiros, o mercado editorial brasileiro arrecadou cerca de R$ 6,2 bilhões em 2023, apresentando um crescimento concreto de aproximadamente 5% em relação ao ano anterior, segundo dados do Painel do Varejo de Livros no Brasil (Nielsen BookScan em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros). Ainda que esse avanço seja animador, o setor ainda não recuperou completamente os patamares anteriores à crise de 2014, quando o consumo de livros caiu drasticamente devido à retração econômica.
Os livros digitais, e-books e audiolivros, vêm ganhando espaço entre o público mais jovem, impulsionados por plataformas de leitura e assinatura, como a Amazon Kindle, Skeelo e Ubook. Ainda assim, os digitais representam uma fatia modesta do faturamento total, embora sua utilização continue crescendo.
Outro dado relevante é o fortalecimento da autopublicação e das editoras independentes, que encontraram na internet e nas redes sociais uma via alternativa para alcançar o público leitor. Muitos autores independentes, hoje, conseguem sucesso expressivo sem passar pelo circuito tradicional das grandes editoras. Plataformas como Wattpad e Amazon KDP democratizaram o acesso à publicação e abriram espaço para novos nomes da literatura nacional. Assim como plataformas de autopublicação como UICLAP, Clube dos Autores e Bok2.
O comportamento do leitor brasileiro também tem mudado. As redes sociais, especialmente o TikTok, tiveram um papel crucial na popularização de certos gêneros literários, como romances contemporâneos, fantasia, young adult e literatura LGBTQIA+, e influenciaram diretamente as vendas. Livros que viralizam nessas plataformas frequentemente entram para as listas de mais vendidos das livrarias, o que mostra uma dinâmica de consumo muito mais conectada às redes do que às resenhas tradicionais.
A crise das grandes livrarias, como Saraiva e Cultura, que entraram em recuperação judicial, alterou a forma como os livros chegam aos leitores. Houve um deslocamento da venda para o meio digital, com a Amazon assumindo uma posição dominante no comércio de livros no Brasil. Essa centralização preocupa pequenas e médias editoras, que lutam por visibilidade em um ambiente de forte concentração.
Em termos de diversidade, ainda que tímido, há um movimento crescente para maior representatividade na literatura nacional. Autores negros, indígenas, LGBTQIA+ e periféricos têm conquistado mais espaço no cenário editorial, embora ainda enfrentem barreiras para acesso à publicação e distribuição em larga escala.
Por fim, as feiras e eventos literários, como a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e a Feira do Livro de Porto Alegre, seguem sendo fundamentais para a divulgação de autores, o fortalecimento da cadeia produtiva do livro e a formação de novos leitores. Com o retorno das atividades presenciais, esses eventos têm tido papel importante na retomada do entusiasmo pela leitura.
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